quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Tudo no Blog das Quintas

Foto de PAT

Enquadradinhos Métodos de Trabalho

Ultimamente têm-me maçado
com enjoativos trechos de lamúrias.

Ele são cinco mil mulheres mal tratadas
não sei quantas raparigas mal amanhadas
sete mil e quinhentas gaivotas assassinadas
um sem número de situações assaz desesperadas.

Eu tenho os meus próprios problemas:
ir à missa das doze, adiantar os estudos,
levar o cão à rua, assim não dá, não dá.

Desisto deste vilancete. É uma pena
eu não ter método de trabalho na escrita.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in Dióspiro

Este post foi "roubado" no blog das Quintas onde podem encontrar tudo sobre a participação do Daniel na próxima sessão de poesia!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Bife Picado Fora de Horas

Uma vez que estive ausente por força maior, e o Bife Picado já se encontra um pouco desactualizado... Procurem-no por aqui por estas bandas: Quintas de Leitura!
Já antes informei que é um blog sobre os espectáculos do ciclo Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre... e como o Daniel tem algumas cumplicidades por aqueles lados, sempre vão encontrando algumas noticías dele, relacionadas com o ciclo, claro!!! Para colmatar as minhas ausências!

sábado, 14 de junho de 2008

Os Portugueses à Conquista de Nice

De distantes reinos houve quem viesse
e com o rei de Nice houve quem os visse.
Pratas e rubis, dizem, houve quem lhe desse.
À rainha, sim, também houve quem lhe desse
e até, se dizem bem, quem depressa se viesse
em noites veladas; santas noites de chupe-la-pisse.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues

Pouco Depressa

falo-te de chuva
como quem diz que as minhas mãos
não se exaltam em revisitar-te o peito

revejo todos os verdes
no peppermint do meu cálice
enquanto a janela abro
pouco depressa
sobre a tarde

falo-te de cansaço
como quem se sentasse
numa poltrona de lã

Daniel Maia-Pinto Rodrigues

sábado, 7 de junho de 2008

Quintas de Leitura

A todos que quiserem saber mais sobre a próxima participação do Daniel nas Quintas de Leitura, já já no dia 18 de Junho (desta vez a uma 4ª feira...) visitem o site porque vem lá tudo...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um Café - Abril 2008

Dióspiro
Poesia Reunida 1977-2007
Autor: Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Selecção e organização: Luís Miguel Queirós e José Carlos Tinoco
Editora: Quasi
Daniel Maia-Pinto Rodrigues – Imaginação e Memória

Descendente, por parte do pai, dos Condes de Botelho e da brasonada família Correia Mourão, bisneto por parte da mãe, do republicano e democrata Coronel Maia Pinto.

É assim o primeiro contacto com o poeta para quem começar a ler este livro pela badana. O bisavô José Teixeira Rêgo, e os seus tios e primos Arnaldo Gama, Conde de Paço d´Arcos, Anrique Paço d´Arcos, Joaquim Paço d´Arcos e Carlos Malheiro não estão aqui para convencer o leitor que Daniel Maia-Pinto Rodrigues não é nenhum badano. Este desfiar de antepassados ilustres não é um mero exercício de pedantismo heráldico, mas antes um exercício de memória, essencial para a sua poética e para a sua vida. Juntamente com a imaginação, a memória é um conceito chave para iniciarmos a digressão pela obra de Maia-Pinto Rodrigues.

Dividido em duas grandes partes (só) aparentemente antagónicas, Contemporaneidades e O baú em quebra-luz, a ordem que se escolher para ler este livro influenciará a percepção geral que se tem da obra e do seu autor. “Eu sou o escritor do baú em quebra-luz, o outro é um repórter da realidade.” O escritor do baú envia esporadicamente ao mundo um outro-eu, descosido da sua identidade real, com o intuito de observar, relatar e esbofetear na cara a realidade mesquinha, chatinha, comesinha, coitadinha. “As diversões do mundo real não me interessam. A pequena tristeza, as pequenas lamúrias, os pequenos ciúmes. A realidade (leia-se contemporaneidade) não é o sítio ideal para escrever poesia. Interessa-me o quietismo, a luz parada, o grande sossego, esse nowhere da realidade.” Interessa-lhe o baú, portanto. E é para o quietismo do baú que o enviado de Daniel à realidade leva notícias, “o pulsar da vida de cá”, que são depois trabalhadas pela personagem primeira que escreveu os poemas do baú em quebra-luz, no baú em quebra-luz. “Ter ficado parado no tempo é profícuo à poesia.”

Daniel não rejeita o real, antes o usa para construir uma realidade ainda mais real, um supra-real cuidadosamente moldado pelas ferramentas intelectuais que escolheu para esse trabalho: memória e imaginação. Estas são as ferramentas que guarda dentro do seu baú, sendo o silêncio e a luz o seu atelier, o espaço ideal, onde o poeta forja a sua realidade ideal. “A minha identidade está preservada na memória, no baú”, diz-me. “É aí que está a luz que me interessa. Não o néon, não aquele amarelo enfermiço, mas o amarelado confortável. É nesse baú em quebra-luz que me encontro”.

Vamos ver como falam estas duas personagens, o enviado e o poeta. Diz-nos, o enviado de Daniel no último poema de Contemporaneidades: “Devagar apenas um se repete/ E chora/ É um rapaz sozinho/ O amor de um rapaz sozinho/ A perfeita pintura de um rapaz/rapariga ágil /Não há mais ninguém/ Nas esquinas dos seus olhos/ Deixem-no ir é um estranho/ Terá o seu tempo a sua oportunidade/ Há-de conseguir imaginar viver.” (p.186)

Há-de conseguir imaginar viver. Como um noviço em vésperas de entrar para a reclusão de um mosteiro, adivinha-se aqui uma preparação do poeta prestes a entrar no baú e desligar-se do mundo. Uma decisão radical de quem tomou consciência de que a vida imaginada é a única que vale a pena ser vivida e, por isso, decidiu ser poeta de corpo inteiro. E sendo que a imaginação trabalha a partir da memória, a experiência da memória é uma experiência de vida.

Uma vez já dentro do baú, o poeta fecha a tampa à realidade não filtrada pela imaginação e diz-nos: “Aquele animal/ por mais que contorne a lagoa/ nunca chegará até nós. / Eu e tu é que ficaremos sempre/ um com o outro. (p.228) A realidade nunca chegará até Daniel Maia-Pinto Rodrigues, ou não tivesse sido sempre o seu grande projecto, ele que odeia projectos, “que o mundo não me mudasse a mim.” (p.170)

Nota: Já tinha acabado de escrever esta crónica, já estava ela prestes a entrar no prelo e ocorreu-se-me que quem eu entrevistei no Café Slávia numa quarta-feira à tarde, quem me ofereceu um exemplar autografado de Dióspiro e escreveu nele algumas palavras simpáticas, não foi Daniel Maia-Pinto Rodrigues mas sim o seu enviado especial à realidade. O verdadeiro Daniel, esse “mafarrico”, nem sequer saiu de casa, do baú, ou donde raio é que ele se esconde. Já não vou a tempo de rescrever esta crónica, os rolos da rotativa já devoraram metade do meu casaco, mas quando nas páginas de Dióspiro encontrar aquele corrimão que desce ao seu encontro, dir-lhe-ei umas quantas coisas acerca de combinar entrevistas e não aparecer. Até lá... bem hajas Daniel por não existires no meio de nós.
Tomás Magalhães Carneiro, Artigo retirado da revista Um Café

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Daniel volta às Quintas de Leitura com a CGD!

[bife+verdadeiro.jpg]

É Claro que é a não perder!!!
Eu vou lá estar... de certeza!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Radio RUM - "Dióspiro" o melhor de 2007

O programa "Livros" da Rum (Rádio Universitária do Minho) considerou o livro Dióspiro de Daniel Maia-Pinto Rodrigues "o melhor e mais belo livro de poemas editado o ano passado em Portugal."
Diz ainda esta rádio que:
"Pela liquidez, segurança e inovação da escrita, Daniel Maia-Pinto Rodrigues é um poeta grande e único."

Parabéns Daniel!
Há um rio
ou um barco no rio
onde a luz é intensa
e de tanta luz nos olhos e água
com rigor se não sabe
se o barco vai vazio.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in Malva 62

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Poeta Nu


Agora que a juventude
me anda a ir embora pelos olhos
não há sexo, não há, como é que se diz,
ternura, não é? que valha os braços
as clavículas
a alegria das raparigas.


Daniel Maia-Pinto Rodirgues, in Malva 62

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Quintas de Leitura


E eis que Yolanda Castaño volta às Quintas de Leitura, desta vez ao lado de José Luís Peixoto.
De relembrar, que Yolanda estreou-se neste Ciclo de espectáculos de poesia no ano passado com Daniel Maia-Pinto Rodrigues na sessão que marcou o lançamento de Dióspiro.

Pêndulos

Que todos os pêndulos sejam pontes
entre mim e parte incerta

Que todas as pontes sejam pernas
alvos de púrpura e cetim

Que todas as pernas sejam frutos
só sem mais nada ou ninguém.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues

terça-feira, 18 de março de 2008

Um Instantinho de Beleza

Não do Daniel, nem com o Daniel, mas é poesia e tem ligações ao Daniel!
A não perder, para quem gosta de poesia.

segunda-feira, 3 de março de 2008

interior

Sibilante movimento,
escarlate deslocação
assolando a estabilidade.
Contínuo tilintar de guizos
percorre os corredores,
esquiva-se das lucernas,
anima os objectos.


Interessantes brinquedos
pendem dos tectos,
incautos oscilam
aos sopro das máscaras.


Descerra-se o flexível espaço
onde permaneces,
o espaço exacto
entre os títeres de seda.


Daniel Maia-Pinto Rodrigues

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O Grande Tocador de Xilofone

No primeiro dia
vou, ainda que de lampejo, a dar um beijo
toca o telefone
Vou a levantar a tampa da retrete
toca o telefone
Vou a meter a boca no pão com queijo
toca o telefone
Vou o espírito libertar ouvindo os Roxette
toca o telefone
Vou tocar uma pívia
toca o telefone
Vou tocar xilofone
toca o telefone
Vou a constatar que o telefone está sempre a tocar
toca o telefone

No segundo dia
saí para desanuviar
encontrei-te
a tomar café com leite
e dei-te o meu telefone
No terceiro dia
estive atento ao telefone
mas o telefone não te trouxe
No quarto dia
desliguei o telefone

E eis-nos chegados ao quinto e último dia
dos dias que referirei
e tanto estes dias, como também este textozinho
vão necessitar de um final
Qual escolheis
o final que termina bem
ou o final que termina mal?
Assinalo que elaborei mais
aquele que termina bem
Repito a pergunta
qual dos dois escolheis?
Para quem ainda não decidiu
eu vou expressar os dois finais
O que termina mal é assim
basicamente
ao quinto dia
saí para desanuviar
e todos vós me vistes, basicamente
Por sua vez o que termina bem
é
ao quinto dia
saí para desanuviar
saí para desanuviar mas é o raio!
encontrei -te
levei-te, trouxe-te e levei-te
levantámos a tampa da retrete
estilhaçámos ao som dos Roxette
percutimos o xilofone
cuspimos no telefone
demos um beijo, que não de lampejo
animámos o já vivido, amámos o divertido
metendo a boca e o nariz no queijo derretido

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in O Afastamento Está Ali Sentado

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

E Para Terminar Um Pequeno Poema de Amor

Nos tempos primitivos
o australopiteco dizia para a mulher:
"ó minha macaquinha, sorria
olhe ali um mamute!
"Nos tempos de hoje em dia
o homem diz para a mulher:
"ó minha dama de companhia, mamo-te."
Prefiro o setentão sinfónico dos Camel
que dizia:
ó minha dama de fantasia, amo-te.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in O Afastamento está ali sentado

Capas de Daniel Maia-Pinto Rodrigues

O Afastamento Está Ali Sentado
Dióspiro - Poesia Reunida 1997-2007

Malva 62

Todos da Quasi

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Se eu quiser que eu coma...

Se quiser que eu coma
os seus animais de estimação,
os seus pardos pombos-correio,
eu como-os
não há problema.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in Antologia "Poesia à Mesa"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Dióspiro

depois do almoço
quando arrastamos a cadeira
um pouco para trás
uma sonolência morna
entrelaçada de luz
entra pelas janelas
ludibria as cortinas
e difusa poisa no vinho
é nessa altura que dizemos:vou comer este diospiro
antes que apodreça

Daniel Maia-Pinto Rodrigues

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A História do Pastor

A seguir a história do pastor.
O pastor vivia em Goinge, floresta normanda.
Era filho dos senhores da Escânia
hoje conhecedores de ciências.
Aos vinte anos sabia já
distinguir as ervas
curava com esmero os golpes do gado.


Entretinha-se com o queixo.
E todos os arroios
o conheciam de sol a sol.


Aos vinte e seis anos
casou com Dourada, a rapariga débil.
Aos trinta
viu realizar-se um sonho antigo:
receber os primos no pátio.
Abriu então cervejas
fritou amêndoas
falou pela primeira vez de nostalgia.


Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in O Afastamento Está Ali Sentado

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Tudo

Seriam grandes
crescendo assim como os sobreiros
Yes seriam grandes
crescendo assim pelas manhãs
onde os sobreiros não sobressaíssem
pela altura. Passassem antes aves
medindo - digo - analisando
compreensivelmente a questão da altura
E nós que crescemos
que ficamos influenciados pelos sobreiros
pelas aves e pela altura
chegará o dia
em que perante os nossos grandes filhos
diremos levantando a taça:
a nossa experiência profunda das coisas
poderá ser-vos extremamente útil
no decifrar do dia a dia
meus filhos minhas filhas
my old uncle Christopher também
Para já
aguardemos com calma
o acto sempre caloroso
refiro-me
à vinda da sopa
trazida pela mãe

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in O Afastamento Está ali Sentado

Destaques

No balanço anual sobre a literatura portuguesa, com publicação no jornal "Público", Mário Cláudio coloca o romance O Corredor Interior, de Daniel Maia-Pinto Rodrigues, como um dos 5 melhores livros (de todos os géneros literários) editados em Portugal, em 2006.

O "Das Artes e das Letras", suplemento de reconhecido interesse cultural, pelo Ministério da Cultura, editado pelos jornais "O Primeirio de Janeiro", pelo "Notícias da Manhã" e pelo "Diário XXI", dispensa-lhe três páginas, com destaque na capa, numa reportagem verdadeiramente inteligente, animada por Filipa Leal. Ver aqui

O jornal "Público", nas duas páginas centrais, no Dia Mundial da Poesia, dá-lhe grande realce, numa oportuna e interessantíssima reportagem, animada por Inês Nadais e Luís Miguel Queirós.

José Carlos de Vasconcelos, no "Jornal de Letras", dá-lhe honras de A Figura, numa excelente, esmerada reportagem, de página inteira e destaque na capa, com assinatura de Francisca Cunha Rêgo.

Marcelo Rebelo de Sousa, inclui-o na antologia que elaborou, intitulada Os Poemas da Minha Vida

A Porto Editora, inclui-o (muma breve representação da moderna poesia portuguesa) na vasta obra - 12 volumes - A Poesia Portuguesa no Mundo (Dicionário Ilustrado).

valter hugo mãe, recentemente distinguido pelo Prémio José Saramago, inclui-o na antologia Desfocados Pelo Vento, A Poesia dos anos 80, Agora (Quasi Edições). Refere o antologiador que Desfocados Pelo Vento é um verso retirado de um poema de Daniel Maia-Pinto Rodrigues.

Luís Carmelo, em edição das Publicações Europa-América, inclui-o na antologia A Novíssima Poesia Portuguesa e a Experiência Estética Contemporânea.

Adorinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira, em edições das Publicações Dom Quixote, representaram-no em duas antologias.

Manuel António Pina, sobre a poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues, entre mais palavras, escreve o seguinte (ver livro Dióspiro):
É preciso que eu diga algo se calhar cruel e comprometedor: a maior parte da poesia portuguesa de autores mais jovens (a revelada, digamos, nas últimas duas décadas) parece-me, senão decepcionante, ao menos, e em geral, desnecessária. Com raríssimas excepções, ela tem apenas, de novo, a idade dos seus autores; muitas vezes nem velha é, é apenas de idade indefinida. A sua principal característica é a desnecessidade, quero eu dizer que, da parte dela, não há-de vir mal nenhum, nem bem nenhum, ao mundo. (De qualquer modo, a minha opinião não tem qualquer relevância na matéria, e não há-de ser decerto ela a determinar o seu destino ou o seu não-destino...)
A poesia do Daniel é, para mim, leitor compulsivo, mesmo se frequentemente distraído, da poesia que se vai publicando, uma dessas raríssimas excepções. E o seu carácter excepcional resukta não só da sua singularidade, mas, simultaneamente, do modo como essa singularidade, essa estranheza, transporta um emocionado e desconcertante reconhecimento do funcionamento do próprio poético.

Mário Cláudio, sobre a poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues, entre mais palavras, escreve o seguinte (ver livro Dióspiro):
Jurar que ascendeu Daniel Maia-pinto Rodrigues, por conseguinte, mercê de um espicialíssimo talento de perscrutação dos deuses profundos, à dimensão de quem dispensa o tocável que se lhe depara, corresponderá a glosar, para melhor entendimento, quanto ficou, entretanto, nas linhas que precedem estas, e a proclamar o que haverá de surgir, nas seguintes. Despido da ganga dos vates do esquematismo emocional, que recolhem as palavras, em sua miserável condição, à superfície da terra ou à flor da pele, eis o que repudia a cura de águas chilras ou o caldo de galinha descorada, a que alguns persistem em condenar, desde há décadas, falanges e falanges de pobres aprendizes, para quem as nascentes mais fundas se ocultam, sem remédio, sob o mais imediato dos rumores.
Estar este demiurgo, por isso, aponta no sentido de uma jubilosa ressurreição, a que logrou superar todo o balbuceio, e abalançar-se a escrever, desde o início, sem aquele lamentável racismo lexical, que caracteriza a acanhada respiração dos supra-referidos mestres, e a de seus discípulos, quando as palavras nobres se contam, de facto, pelos cinco dedos de cada mão. É a realidade global, pois, que se descobre, nestes textos, além de tido o que a supera, porque de um universo paralelo, mas que, com o vertente, se cruza e se entretece, se vê espraiada a paisagem dos invetores de semelhante fibra, os quais transcendem, com o risco que assiste, sempre, aos criadores autênticos, as inúmeras fronteiras do território do possível.

Rosa Maria Martelo, Luís Miguel Queirós e José Carlos Tinoco constroem peças literárias de grande beleza e visão profunda, em torno da poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues (ver livro Dióspiro).

Rui Lage, no seu notável Ensaio (cuja leitura recomendo vivamente, por peça literária de inegável valor e interesse cultural) sobre a poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues diz o seguinte nas conclusões:
Em resumo, ambos nos oferecem leituras apaixonantes, habitam as margens, navegam contra a corrente, fintam arquétipos e estereótipos, resistem às tentações epigonais, ambos, se a palavra ainda não é proibida, ou de mau gosto, fazem vanguarda.
Por tudo isto, e em jeito de conclusão antecipada, dizemos que Daniel Maia-Pinto Rodrigues é responsável por não pouca coisa: oferece de bandeja à poesia portuguesa um admirável mundo novo.

Em concurso instituído pelo Ministério da Cultura, Fiama Hasse Pais Brandão e Vasco Graça Moura atribuiram-lhe menção Honrosa pelo livro A Próxima Cor. Este mesmo livro foi posteriormente distinguido com o prémio Foz Côa Cultural, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Devagar

devagar
setembro
entorna luz na planície

devagar
o vento
inventa choupos

e choupos
devagar
tornam-se rio

devagar cavalos surgem galopando
erguem brancas as cabeças
respiram verdes a claridade
E depois seguem
devagar pelos túneis de luz

Daniel Maia-Pinto Rodrigues in O Afastamento Está Ali

Azul, amarelo e roxo

As três cores do Daniel:
O azul - a infância e onde existem as memórias;
O amarelo - o satírico e onde ele próprio se torna uma espécie de narrador participante;
E o roxo - a aproximação ao negro, ao gótica e é um encantamento do autor.

Pequena Biografia

Daniel Maia-Pinto Rodrigues nasceu no Porto a 7 de Julho de 1960.
Desde 1983 até à actualidade escreveu um vasto conjunto de obras, entre as quais há a destacar a reedição em 2005 da obra, de 1994, O Valete do Sétimo Naipe, com prefácio de Mário Cláudio, O Diabo Tranquilo em colaboração com Isabel Rio Novo, em 2004, tal como a representação dos seus trabalhos em diversas antologias poéticas, como por exemplo Os Poemas da Minha Vida, por Marcelo Rebelo de Sousa.
Em 1993 a sua obra A Próxima Cor recebeu o 1º Prémio Nacional Foz-Côa-Cultural e Menção Honrosa / Novos Valores da Cultura, atribuída pelo Ministério da Educação e Cultura, segundo parecer do Júri constituído por Fiama Hasse Pais Brandão, Vasco Graça Moura e José Fernando Tavares (em representação do Clube Português de Artes e Ideias).
Daniel Maia-Pinto Rodrigues tem mantido uma colaboração assídua com diversas publicações periódicas generalistas e especializadas, onde foram publicados textos de sua autoria, como é o caso de Vértice, Sílex, A Coisa, Sempre, Aquilo, Trilateral (Porto-Barcelona-Santiago), Babel, Quebra-Noz, Brétema, Hífen, Escolma Poética (Espanha), Orfeu, Il Vento Salato (Itália), Poética (Uruguai), Cadernos do Tâmega, Sol XXI, Simbólica, Metro, Pinguim Poesia em Pó, Anima+l (Espanha), Fundição Veia Assanhada, Faces, Hei!, Revista 365, Inimigo Rumor, Tertúlia, Século XXI, Saudade, etc.
Recitou os seus poemas em diferentes salas de espectáculo e cultura entre os quais são de salientar o Teatro D. Maria II e a Fundação Ciência e Desenvolvimento / Teatro do Campo Alegre, tal como em inúmeras Bibliotecas e Feiras do Livro de diversos pontos do país.