segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um Café - Abril 2008

Dióspiro
Poesia Reunida 1977-2007
Autor: Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Selecção e organização: Luís Miguel Queirós e José Carlos Tinoco
Editora: Quasi
Daniel Maia-Pinto Rodrigues – Imaginação e Memória

Descendente, por parte do pai, dos Condes de Botelho e da brasonada família Correia Mourão, bisneto por parte da mãe, do republicano e democrata Coronel Maia Pinto.

É assim o primeiro contacto com o poeta para quem começar a ler este livro pela badana. O bisavô José Teixeira Rêgo, e os seus tios e primos Arnaldo Gama, Conde de Paço d´Arcos, Anrique Paço d´Arcos, Joaquim Paço d´Arcos e Carlos Malheiro não estão aqui para convencer o leitor que Daniel Maia-Pinto Rodrigues não é nenhum badano. Este desfiar de antepassados ilustres não é um mero exercício de pedantismo heráldico, mas antes um exercício de memória, essencial para a sua poética e para a sua vida. Juntamente com a imaginação, a memória é um conceito chave para iniciarmos a digressão pela obra de Maia-Pinto Rodrigues.

Dividido em duas grandes partes (só) aparentemente antagónicas, Contemporaneidades e O baú em quebra-luz, a ordem que se escolher para ler este livro influenciará a percepção geral que se tem da obra e do seu autor. “Eu sou o escritor do baú em quebra-luz, o outro é um repórter da realidade.” O escritor do baú envia esporadicamente ao mundo um outro-eu, descosido da sua identidade real, com o intuito de observar, relatar e esbofetear na cara a realidade mesquinha, chatinha, comesinha, coitadinha. “As diversões do mundo real não me interessam. A pequena tristeza, as pequenas lamúrias, os pequenos ciúmes. A realidade (leia-se contemporaneidade) não é o sítio ideal para escrever poesia. Interessa-me o quietismo, a luz parada, o grande sossego, esse nowhere da realidade.” Interessa-lhe o baú, portanto. E é para o quietismo do baú que o enviado de Daniel à realidade leva notícias, “o pulsar da vida de cá”, que são depois trabalhadas pela personagem primeira que escreveu os poemas do baú em quebra-luz, no baú em quebra-luz. “Ter ficado parado no tempo é profícuo à poesia.”

Daniel não rejeita o real, antes o usa para construir uma realidade ainda mais real, um supra-real cuidadosamente moldado pelas ferramentas intelectuais que escolheu para esse trabalho: memória e imaginação. Estas são as ferramentas que guarda dentro do seu baú, sendo o silêncio e a luz o seu atelier, o espaço ideal, onde o poeta forja a sua realidade ideal. “A minha identidade está preservada na memória, no baú”, diz-me. “É aí que está a luz que me interessa. Não o néon, não aquele amarelo enfermiço, mas o amarelado confortável. É nesse baú em quebra-luz que me encontro”.

Vamos ver como falam estas duas personagens, o enviado e o poeta. Diz-nos, o enviado de Daniel no último poema de Contemporaneidades: “Devagar apenas um se repete/ E chora/ É um rapaz sozinho/ O amor de um rapaz sozinho/ A perfeita pintura de um rapaz/rapariga ágil /Não há mais ninguém/ Nas esquinas dos seus olhos/ Deixem-no ir é um estranho/ Terá o seu tempo a sua oportunidade/ Há-de conseguir imaginar viver.” (p.186)

Há-de conseguir imaginar viver. Como um noviço em vésperas de entrar para a reclusão de um mosteiro, adivinha-se aqui uma preparação do poeta prestes a entrar no baú e desligar-se do mundo. Uma decisão radical de quem tomou consciência de que a vida imaginada é a única que vale a pena ser vivida e, por isso, decidiu ser poeta de corpo inteiro. E sendo que a imaginação trabalha a partir da memória, a experiência da memória é uma experiência de vida.

Uma vez já dentro do baú, o poeta fecha a tampa à realidade não filtrada pela imaginação e diz-nos: “Aquele animal/ por mais que contorne a lagoa/ nunca chegará até nós. / Eu e tu é que ficaremos sempre/ um com o outro. (p.228) A realidade nunca chegará até Daniel Maia-Pinto Rodrigues, ou não tivesse sido sempre o seu grande projecto, ele que odeia projectos, “que o mundo não me mudasse a mim.” (p.170)

Nota: Já tinha acabado de escrever esta crónica, já estava ela prestes a entrar no prelo e ocorreu-se-me que quem eu entrevistei no Café Slávia numa quarta-feira à tarde, quem me ofereceu um exemplar autografado de Dióspiro e escreveu nele algumas palavras simpáticas, não foi Daniel Maia-Pinto Rodrigues mas sim o seu enviado especial à realidade. O verdadeiro Daniel, esse “mafarrico”, nem sequer saiu de casa, do baú, ou donde raio é que ele se esconde. Já não vou a tempo de rescrever esta crónica, os rolos da rotativa já devoraram metade do meu casaco, mas quando nas páginas de Dióspiro encontrar aquele corrimão que desce ao seu encontro, dir-lhe-ei umas quantas coisas acerca de combinar entrevistas e não aparecer. Até lá... bem hajas Daniel por não existires no meio de nós.
Tomás Magalhães Carneiro, Artigo retirado da revista Um Café

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Daniel volta às Quintas de Leitura com a CGD!

[bife+verdadeiro.jpg]

É Claro que é a não perder!!!
Eu vou lá estar... de certeza!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Radio RUM - "Dióspiro" o melhor de 2007

O programa "Livros" da Rum (Rádio Universitária do Minho) considerou o livro Dióspiro de Daniel Maia-Pinto Rodrigues "o melhor e mais belo livro de poemas editado o ano passado em Portugal."
Diz ainda esta rádio que:
"Pela liquidez, segurança e inovação da escrita, Daniel Maia-Pinto Rodrigues é um poeta grande e único."

Parabéns Daniel!
Há um rio
ou um barco no rio
onde a luz é intensa
e de tanta luz nos olhos e água
com rigor se não sabe
se o barco vai vazio.

Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in Malva 62